“Evento zero”, que iniciou apagão, começou em linha da Chesf, diz ONS Operación

17/08/2023

Brasil

Operación


Uma falha no sistema de proteção da LT Quixada-Fortaleza pode ter disparado uma
sequencia de eventos, derrubando o sistema

O “evento
zero” que iniciou o processo de desligamento em cascata no Sistema Interligado
Nacional, atingindo 25 dos 26 estados e o Distrito Federal, aconteceu na linha
de transmissão Quixadá-Fortaleza, de propriedade da Chesf. Considerado de
pequena magnitude e sem potencial para, isoladamente, causar o colapso do
sistema como um todo, ele foi provocado por um erro de programação já admitido
pela subsidiária da Eletrobras, em comunicado ao Operador Nacional do Sistema
Elétrico.

“O sistema
não se protegeu como deveria e ocasionou uma série de outras falhas do sistema
que a partir daí serão apuradas pelo ONS”, disse o ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira, em entrevista nesta quarta-feira,16 de agosto. O segundo
evento, que tinha surgido como hipótese ontem, ainda não identificado pelo ONS,
mas é possível que ele tenha se somado a outros acontecimentos subsequentes que
agora vão ser detalhados pelo operador.

Silveira
convocou uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico. Ele reuniu durante todo o dia no MME técnicos do ministério e
representantes do ONS e da Agência Nacional de Energia Elétrica para analisar a
situação.

O incidente
que provocou uma interrupção de seis horas no fornecimento de energia elétrica
em quase todo o país na última terça-feira, 15 de agosto, foi iniciado por
volta de 8h30, provocando a interrupção de quase 20 mil MW de carga nas cinco
regiões do país. O único estado não afetado foi Roraima, que ainda opera
isolado do restante do país.

“No
primeiro momento, é importante destacar, nós ficamos completamente focados em
restabelecer o Sistema Interligado Nacional para que todos os usuários de
energia pudessem ter seus serviços recuperados. No segundo momento, nós estamos
fazendo o que é nosso compromisso, que é a transparência e clareza com a
população, para que ela tenha ciência completa, total e irrestrita”, disse o
ministro.

Silveira
afirmou que, mais do que nunca, considera necessária a participação ativa da
Polícia Federal no caso, já que o operador do sistema não teve como apontar um
falha técnica que pudesse causar um blecaute com a dimensão do episódio de
terça. A abertura de inquérito policial para apurar as causas do incidente,
incluindo uma eventual sabotagem, foi determinada hoje pelo ministro da Justiça
Flávio Dino, a partir de um pedido feito por Silveira.

O
diretor-geral da PF, Andrey Passos Rodrigues, esteve no MME e, segundo o
ministro, a corporação já está mobilizada para iniciar a apuração do caso.

O ministro,
que havia criticado a Eletrobras no dia anterior, disse que Chesf admitiu ao
ONS que houve uma falha sistêmica. Mas afirmou em seguida que não se pode ainda
dizer que foi falha humana, ou se foi uma falha do sistema, mas o fato é que
essa falha em si não seria capaz de causar o evento, e nenhuma hipótese deve
ser descartada.

Silveira
disse que pediu “todo vigor” à PF e a celeridade necessária à Aneel e ao ONS. A
depender do que for apurado, a Chesf pode sofrer penalidades pela falha no
sistema de proteção da linha que iniciou o processo de desligamento. O ministro
explicou genericamente que podem ser aplicadas sanções administrativas ou de
ordem criminal, mas isso depende tanto dos desdobramentos da apuração do ONS
quanto do inquérito policial.

Pelo
procedimento padrão, o operador terá até 45 dias úteis para apresentar
relatório com as conclusões sobre as causas do desligamento. O diretor-geral do
ONS, Luiz Carlos Ciocchi, disse que o propósito hoje era identificar o evento
inicial, a partir do qual a propagação se originou, o que foi feito por meio de
um trabalho realizado durante a noite não só no ONS, como pela transmissoras
que operam na região.

A própria
Chesf chegou a conclusão que houve abertura da linha Quixadá-Fortaleza, após o
não acionamento de uma proteção que estaria programada. “Esse evento, a
abertura de uma linha, não é um evento raro, é um evento digamos assim até
corriqueiro”, disse.

Segundo o
executivo, a linha estava energizada, seguindo um parâmetro de proteção para
evitar alguma sobrecarga, e deveria ser desligada em um determinado momento,
mas acabou abrindo indevidamente fora do programado. “Isso ocasionou uma
sequência, uma onda, como se fosse uma coluna de peças de dominó, muito grande.
Então, não há como falar se são dois, são três, foram N eventos que aconteceram
na região e que foram se propagando. Várias linhas na região Nordeste.”

O incidente
que desconectou a fronteira elétrica da região Nordeste, Norte e do Sudeste
aconteceu em 600 milissegundos, quando todas as linhas que fazem parte do SIN
apresentaram essa situação. Ciocchi disse que o que vai ser enfrentado no RAP
(Relatório de Avaliação de Perturbação) é o que efetivamente aconteceu nesses
600 milissegundos, a partir de uma série de informações de vários agentes, de
várias fontes, para que, com uma análise refinada, se consiga identificar a
sequência lógica dos eventos.

“Todas as
medidas de segurança de todas as linhas de transmissão são responsabilidade dos
operadores. Então, obviamente isso aí era responsabilidade da Chesf, vamos
dizer, responsabilidade porque está dentro do perímetro, porque está dentro de
onde a chesf opera e tem essa concessão.”

A hipótese
de um segundo evento na região Norte foi descartada pelo diretor do ONS, que
também negou qualquer associação do episódio com a operação de usinas eólicas. (CanalEnergia – Brasil)